A PERGUNTA QUE NÃO QUER CALAR

@ correio

É de se pensar os motivos… confira o texto:

Frente à tragédia que está ocorrendo em Santa Catarina, vocês viram algum “movimento social” se apresentar para realizar trabalhos voluntários? Uma caravana do MST? Um grupo do movimento dos assentados de barragens? Uma equipe dos padrecos que insuflam os índios? A turma dos quilombolas? A UNE e o pessoal da sua “caravana da saúde”? Onde estão os ditos “movimentos sociais”, tão solidários consigo mesmos?

É na vida mesmo!

Profissionais TI e o meu primeiro post

@ eumigo comigo mesmo

Convidado pelo Jackson Caset a partir de hoje participo do blog Profissionais TI e meu primeiro post rolou a respeito da experiência da adoção de uma ferramenta de CRM. Recomendo a visita: http://www.profissionaisti.com.br/2008/12/crm-para-todos

Capivarou!, Internet, Sociedade, Software

Fingi ser gari por 8 anos e vivi como um ser invisível

@ recebido por correio

Recebi um texto muito interessante que compartilho na íntegra (como recebi, claro). Vale uma boa reflexão a respeito.

Psicólogo varreu as ruas da USP para concluir sua tese de mestrado da ‘invisibilidade pública’. Ele comprovou que, em geral, as pessoas enxergam apenas a função social do outro. Quem não está bem posicionado sob esse critério, vira mera sombra social.
Plínio Delphino, Diário de São Paulo.

O psicólogo social Fernando Braga da Costa vestiu uniforme e trabalhou oito anos como gari, varrendo ruas da Universidade de São Paulo. Ali, constatou que, ao olhar da maioria, os trabalhadores braçais são ‘seres
invisíveis, sem nome’. Em sua tese de mestrado, pela USP, conseguiu comprovar a existência da ‘invisibilidade pública’, ou seja, uma percepção humana totalmente prejudicada e condicionada à divisão
social do trabalho, onde enxerga-se somente a função e não a pessoa.
Braga trabalhava apenas meio período como gari, não recebia o salário de R$ 400 como os colegas de vassoura, mas garante que teve a maior lição de sua vida:

‘Descobri que um simples bom dia, que nunca recebi como gari, pode significar um sopro de vida, um sinal da própria existência’, explica o pesquisador.

O psicólogo sentiu na pele o que é ser tratado como um objeto e não como um ser humano. ‘Professores que me abraçavam nos corredores da USP passavam por mim, não me reconheciam por causa do uniforme. Às vezes, esbarravam no meu ombro e, sem ao menos pedir desculpas, seguiam me ignorando, como se tivessem encostado em um poste, ou em um orelhão’, diz.

No primeiro dia de trabalho paramos pro café. Eles colocaram uma garrafa térmica sobre uma plataforma de concreto. Só que não tinha caneca. Havia um clima estranho no ar, eu era um sujeito vindo de outra
classe, varrendo rua com eles. Os garis mal conversavam comigo, alguns se aproximavam para ensinar o serviço. Um deles foi até o latão de lixo pegou duas latinhas de refrigerante cortou as latinhas pela metade e serviu o café ali, na latinha suja e grudenta. E como a gente estava num grupo grande, esperei que eles se servissem primeiro. Eu nunca apreciei o sabor do café. Mas, intuitivamente, senti que deveria tomá-lo, e
claro, não livre de sensações ruins. Afinal, o cara tirou as latinhas de refrigerante de dentro de uma lixeira, que tem sujeira, tem formiga, tem barata, tem de tudo. No momento em que empunhei a caneca improvisada, parece que todo mundo parou para assistir à cena, como se perguntasse:
‘E aí, o jovem rico vai se sujeitar a beber nessa caneca?’ E eu bebi. Imediatamente a ansiedade parece que evaporou. Eles passaram a conversar comigo, a contar piada, brincar.

O que você sentiu na pele, trabalhando como gari?
Uma vez, um dos garis me convidou pra almoçar no bandejão central. Aí eu entrei no Instituto de Psicologia para pegar dinheiro, passei pelo andar térreo, subi escada, passei pelo segundo andar, passei na
biblioteca, desci a escada, passei em frente ao centro acadêmico, passei em frente a lanchonete, tinha muita gente conhecida. Eu fiz todo esse trajeto e ninguém em absoluto me viu. Eu tive uma sensação muito ruim. O meu corpo tremia como se eu não o dominasse, uma angustia, e a tampa da cabeça era como se ardesse, como se eu tivesse sido sugado. Fui almoçar, não senti o gosto da comida e voltei para o trabalho atordoado.

E depois de oito anos trabalhando como gari? Isso mudou?
Fui me habituando a isso, assim como eles vão se habituando também a situações pouco saudáveis. Então, quando eu via um professor se aproximando – professor meu – até parava de varrer, porque ele ia passar
por mim, podia trocar uma idéia, mas o pessoal passava como se tivesse passando por um poste, uma árvore, um orelhão.

E quando você volta para casa, para seu mundo real?
Eu choro. É muito triste, porque, a partir do instante em que você está inserido nessa condição psicossocial, não se esquece jamais. Acredito que essa experiência me deixou curado da minha doença burguesa. Esses
homens hoje são meus amigos. Conheço a família deles, freqüento a casa deles nas periferias. Mudei. Nunca deixo de cumprimentar um trabalhador braçal.

Faço questão de o trabalhador saber que eu sei que ele existe. Senti que eles são tratados pior do que um animal doméstico, que sempre é chamado pelo nome. São tratados como se fossem uma ‘COISA’.

É na vida mesmo!, Sociedade

Google Maps e as cheias em Santa Catarina

@ eumigo comigo mesmo

Muito bom o trabalho que o pessoal do Googlio produziu em associação as entidades de Blumenau. Este mapa foi montado com o apoio da Prefeitura de Blumenau, Defesa Civil do Estado e demais entidades da sociedade para apoiar os esforços de resgate e troca de informação relevante para todos os envolvidos nessa calamidade.

É na vida mesmo!, Capivarou!, Sociedade, Software

Ainda sobre a tragédia catarinense

Posto este correio na íntegra pois achei muito bacana a leitura. A origem dele, por enquanto é incerta, mas o texto é de uma sensibilidade excepcional!

Meus amigos,

Hoje 27 de novembro de 2008 o sol saiu e conseguimos voltar a trabalhar. A despeito de brincadeiras e comentários espirituosos normais sobre esta “folga forçada” a verdade é que nunca me senti tão feliz de voltar ao trabalho. Não somente pelo trabalho, pela instituição e pela própria tranqüilidade de ter aonde ganhar o pão, mas também por ser um sinal de que a vida está voltando ao normal aqui na nossa Itajaí.

As fotos que circulam na internet e os telejornais já nos dão as imagens claras de tudo que aconteceu então não vou me estender narrando e descrevendo as cenas vistas nestes dias. Todos vocês já sabem de cor. Eu quero mesmo é falar sobre lições aprendidas.

Por mais que teorias e leituras mil nos falem sobre isso ainda é surpreendente presenciar como uma tragédia desse porte pode fazer aflorar no ser humano os sentimentos mais nobres e os seus instintos mais primitivos. As cenas e situações vividas neste final de semana prolongado em Itajaí nos fizeram chorar de alegria, raiva, tristeza e impotência. Fizeram-nos perder a fé no ser humano num segundo, para recuperar-la no seguinte. Fez-nos ver que sempre alguém se aproveitará da desgraça alheia, mas que também é mais fácil começar de novo quando todos se dão as mãos.

Que aquela entidade superior que cada um acredita (Deus, Alá, Buda, GADU etc.) e da forma que cada um a concebe tenha piedade daqueles:

  • Que se aproveitaram a situação para fazer saques em Supermercados, levando principalmente bebidas e cigarros
  • Que saquearam uma farmácia levando medicamentos controlados, equipamentos e cofres e destruindo os produtos de primeira necessidade que ficaram assim como a estrutura física da mesma.
  • Que pediam 5 reais por um litro de água mineral.
  • Que chegaram a pedir 150 reais por um botijão de gás.
  • Que foram pedir donativos de água e alimentos nas áreas secas pra vender nas áreas alagadas.
  • Que foram comer e pegar roupas nos centros de triagem mesmo não tendo suas casas atingidas.
  • Que esperaram as pessoas saírem das suas casas para roubarem o que restava.
  • Que fizeram pessoas dormir em telhados e lajes com frio e fome para não ter suas casas saqueadas.
  • Que não sentiram preocupação por ninguém, algo está errado em seu coração.
  • Que simplesmente fizeram de conta que nada acontecia, por estarem em áreas secas.

Da mesma forma, que essa mesma entidade superior abençoe:

  • Aqueles que atenderam ao chamado das rádios e se apresentaram no domingo no quartel dos bombeiros para ajudar de qualquer forma.
  • Os bombeiros que tiveram paciência com a gente no quartel para nos instruir e nos orientar nas atividades que devíamos desenvolver.
  • A turma das lanchas, os donos das lanchinhas de pescarias de fim de semana que rapidamente trouxeram seus barquinhos nas suas carretas e fizeram tanta diferença.
  • À equipe da lancha, gente sensacional que parecia que nos conhecíamos de toda uma vida.
  • Aos soldados do exército do Paraná e do Rio Grande do Sul.
  • Aos bravos gaúchos, tantas vezes vitimas de nossas brincadeiras que trouxeram caminhões e caminhões de mantimentos.
  • Aos cadetes da Academia da Polícia Militar que ainda em formação se portaram com veteranos.
  • Aos Bombeiros e Policias locais que resgataram, cuidaram , orientaram e auxiliaram de todas as formas, muitas vezes com as suas próprias casas embaixo das águas.
  • Aos Médicos Voluntários.
  • Às enfermeiras Voluntárias.
  • Aos bombeiros do Paraná que trabalharam ombro a ombro com os nossos.
  • Aos Helicópteros da Aeronáutica e Exercito que fizeram os resgates nos locais de difícil acesso.
  • Aos incansáveis do SAMU e das ambulâncias em geral, que não tiveram tempo nem pra respirar.
  • Ao pessoal do Helicóptero da Polícia Militar de São Paulo, que mostrou que longo é o braço da solidariedade.
  • Ao pessoal das rádios que manteve a população informada e manteve a esperança de quem estava isolado em casa.
  • Aos estudantes que emprestaram seus físicos para carregar e descarregar caminhões nos centros de triagem.
  • Às pessoas que cozinharam para milhares de estranhos.
  • Ao empresário que não se identificou e entregou mais de mil marmitex no centro de triagem.
  • A todos que doaram nem que seja uma peça de roupa.
  • A todos que serviram nem que seja um copo de água a quem precisou.
  • A todos que oraram por todos.
  • Ao Brasil todo, que chorou nossos mortos e nossas perdas.
  • Aos novos amigos que fiz no centro de triagem, na segunda-feira.
  • A todos aqueles que me ligaram preocupados com a gente.
  • A todos aqueles que ainda se preocupam por alguém.
  • A todos aqueles que fizeram algo, mas eu não soube ou esqueci.

Há alguns anos, numa grande enchente na Argentina um anônimo escreveu isto:

COMEÇAR DE NOVO

Eu tinha medo da escuridão

Até que as noites se fizeram longas e sem luz

Eu não resistia ao frio facilmente

Até passar a noite molhado numa laje

Eu tinha medo dos mortos

Até ter que dormir num cemitério

Eu tinha rejeição por quem era de Buenos Aires

Até que me deram abrigo e alimento

Eu tinha aversão a Judeus

Até darem remédios aos meus filhos

Eu adorava exibir a minha nova jaqueta

Até dar ela a um garoto com hipotermia

Eu escolhia cuidadosamente a minha comida

Até que tive fome

Eu desconfiava da pele escura

Até que um braço forte me tirou da água

Eu achava que tinha visto muita coisa

Até ver meu povo perambulando sem rumo pelas ruas

Eu não gostava do cachorro do meu vizinho

Até naquela noite eu o ouvir ganir até se afogar

Eu não lembrava os idosos

Até participar dos resgates

Eu não sabia cozinhar

Até ter na minha frente uma panela com arroz e crianças com fome

Eu achava que a minha casa era mais importante que as outras

Até ver todas cobertas pelas águas

Eu tinha orgulho do meu nome e sobrenome

Até a gente se tornar todos seres anônimos

Eu não ouvia rádio

Até ser ela que manteve a minha energia

Eu criticava a bagunça dos estudantes

Até que eles, às centenas, me estenderam suas mãos solidárias

Eu tinha segurança absoluta de como seriam meus próximos anos

Agora nem tanto

Eu vivia numa comunidade com uma classe política

Mas agora espero que a correnteza tenha levado embora

Eu não lembrava o nome de todos os estados

Agora guardo cada um no coração

Eu não tinha boa memória

Talvez por isso eu não lembre de todo mundo

Mas terei mesmo assim o que me resta de vida para agradecer a todos

Eu não te conhecia

Agora você é meu irmão

Tínhamos um rio

Agora somos parte dele

É de manhã, já saiu o sol e não faz tanto frio

Graças a Deus

Vamos começar de novo.

Anônimo

Capivarou!